O dedo da vida

26 de maio de 2020

“O terceiro item do livro Mumonkan (zen-budismo) diz o seguinte: “O bonzo Gutei levanta o dedo”. O bonzo Gutei, superior do templo Kinkazan, apenas mostrava um dedo em posição ereta, quaisquer que fossem as perguntas a ele dirigidas pelos visitantes que vinham à procura da Verdade. Vendo o seu dedo, alguns despertavam para a Verdade, enquanto outros iam embora sem nada entender. Aquele que vê apenas a forma exterior do dedo e não vê a Vida-essência não consegue despertar para a Verdade. Certo dia, um jovem monge desse templo, ao ser indagado por um visitante acerca dos ensinamentos, levantou o dedo, imitando o seu mestre. Mas o jovem monge imitou apenas o gesto do mestre Gutei, sem conhecer a razão por que ele levantava o dedo, isto é, sem compreender a Vida-essência do homem.
Quando o mestre soube disso, cortou o dedo indicador do jovem monge. Este tentou fugir, gritando de dor. Ato contínuo, o mestre chamou-lhe pelo nome. Este olhou para trás a fim de ouvir o que o mestre teria a dizer, mas o mestre, como de costume, levantou o dedo. Naquele instante, o jovem monge compreendeu uma grande Verdade. O que o jovem monge compreendeu? Quem souber o que ele compreendeu, também terá despertado para a Verdade. 

O jovem monge, enquanto tinha o dedo para levantar, estava apegado à forma do dedo e não conseguia ver a Vida-essência. Todavia, agora que lhe fora cortado o dedo, não possuía mais o dedo a ser levantado. Apesar disso, o mestre bonzo ordenava-lhe que levantasse o dedo, assim como ele fazia. Como levantar o dedo que não existe mais? Na sua resposta está a essência do Zen. O dedo a ser levantado não era o dedo físico. Um dedo que pode ser levantado apenas formalmente não poderá ser levantado quando ele não existir mais. O verdadeiro “dedo” é aquele que pode ser levantado, mesmo depois que se perdeu o dedo, mesmo depois que se perdeu tudo. O que o mestre quis mostrar era o “dedo da Vida”, absolutamente livre e que não sofre restrição alguma, mesmo quando se perde tudo. Aquele que se queixa das privações, dizendo que falta isso ou aquilo, é uma pessoa que não conhece a Imagem Verdadeira da Vida. A Imagem Verdadeira da nossa Vida é aquela que não sofre de privação alguma, mesmo quando não possuímos nada.
Aquele que fica se apoiando sempre na matéria e curvando-se diante dela tem dificuldade em conscientizar -se de que, sendo ele filho de Deus, é um ser espiritual jamais é dominado pela matéria. 
Graças a essa lição, o jovem monge pôde despertar para a Imagem Verdadeira de sua Vida e alcançou a verdadeira salvação. Mas a questão não se restringe a apenas um dedo: o homem precisa compreender que ele é um ser indestrutível, ainda que lhe cortem o corpo todo. Do contrário, não será salvo verdadeiramente. Se naquele momento o bonzo tivesse dito que o homem é uma existência material e que sem o dedo físico nada pode se fazer nada, o jovem monge teria sentido dor na sua mão sangrenta e não teria despertado para a Verdade, nem teria alcançado a iluminação.
Também o médico, ao se dirigir a um paciente, deve tomar as mesmas atitude de bonzo, se tiver a infeliz idéia de dizer: “Se você dispensar os remédios materiais não será curado, por que o homem é feito de matéria”, poderá matar o paciente, não apenas fisicamente, mas também espiritualmente.

…”

Referência bibliográfica
A Verdade da Vida, volume 4, pág 37, Masaharu Taniguchi

Compartilhar:

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Posts relacionados

O que é a “causa”?

“O que constitui a “causa” é vibração. É conhecida também como “carma”. Pensamentos, palavras e atos são três modalidades de vibrações. Por isso, no budismo diz-se que existem o “carma pensamentos”, o “carma das palavras” e o “carma dos atos”.

Ler mais »

A relação entre a Seicho-No-Ie e a medicina

“A Seicho-No-Ie não tem intenção alguma de se opor à medicina. Nos casos de doenças que a medicina pode curar, a pessoa deve ir ao médico. Na coleção A Verdade da Vida está explicado “com que atitude mental se deve

Ler mais »

“Lei mental”, segundo os ensinamento da Seicho-No-Ie

“Na Seicho-No-Ie fala-se muito em “lei mental”. O que é “lei mental”? É a lei segundo a qual “tudo aquilo que se pensa infalivelmente acaba por manifestar concretamente”. Tudo o que pensamos transforma-se naquilo, segundo o Budismo, é chamada de

Ler mais »

O efeito do medo e da ira sobre o organismo humano

“Não só as explicações do ponto de vista religioso, como também as modernas pesquisas no campo da biologia comprovam como é negativo o efeito do “medo do pecado” sobre o organismo humano. Os sentimentos negativos como o medo, a ira

Ler mais »

Fazer o bem a nós mesmos

“Segundo a nossa doutrina, a base moral está em “fazer o bem a nós mesmos”. Se não nos importássemos com nós mesmos, se não nos impostássemos em melhorar a nós próprios, não encontraríamos sentido algum em praticar boas ações. O

Ler mais »