Caso de um certo “office boy”

31 de julho de 2020

“Certa manhã de inverno, dois office-boys de uma firma chegaram ao escritório bem antes do horário usual e começaram a remover a neve do pátio. Tal procedimento era realmente digno de louvor, e se o presidente da firma tivesse visto aquilo, poderia até ter pensado em aumentar a gratificação semestral deles. Mas, acontece que dali a pouco chegou um dos funcionários da Seção Técnica, o qual ficou irritado porque os office-boys não estavam à sua disposição, na sua sala. Olhou pela janela e, ao avistá-los removendo a neve, gritou:
– Ei você aí! Traga o meu chá!
– Sim senhor, respondeu um dos office-boys que interrompendo o serviço que estava fazendo, foi servir chá para o funcionário.
Contudo, no seu íntimo, avolumou-se o descontentamento. Por isso, a partir daquele dia, sempre que conversava com os operários da fábrica cujo nível era mais ou menos igual ao seu, o office-boy se queixava daquele funcionário, dizendo:
– Aquele fulano lá da Seção Técnica pensa que é o melhor só porque tem um diploma. Outro dia, eu e meu colega estávamos removendo a neve do pátio, de manhã bem cedo. E não é que o homem chegou ao serviço bem depois e ficou gritando para a gente servir o chá? Afinal, o que é mais útil para a firma, remover a neve do pátio, ou tomar chá?
É da natureza humana solidarizar-se com os mais fracos. Assim, os operários começaram a mostrar sua revolta contra os engenheiros da Seção Técnica. Quando aquele engenheiro dava alguma ordem aos operários, estes resmungavam qualquer coisa e não obedeciam. Não demorou muito e os operários entraram em greve. Houve uma grande confusão na firma. O seu prestígio na praça caiu e a procura de seus produtos diminuiu muito.
Na verdade, tudo começou quando um office-boy foi tratado sem a devida consideração. Toda essa confusão teria sido evitada, se na ocasião aquele engenheiro da Seção Técnica tivesse sido mais bondoso e tivesse dito aos office-boys: 
– Olá chegaram cedo para limpar a neve? Obrigado pelo trabalho! Precisam de auxílio?
Por outro lado, se o office-boy, apesar da falta de delicadeza do seu superior, tivesse atendido sem resmungar, tudo teria corrido bem e não teria acontecido aquela confusão.
Todo esse tumulto que levou a firma à beira da falência foi provocado pela falta de delicadeza de sentimento e ausência de palavras bondosas. Que tal a sua firma? Examine-a, refletindo bem sobre o que leu aqui.
No caso citado, é claro que o funcionário da Seção Técnica não foi o único culpado. O office-boy também teve a sua parcela de culpa. “Basta haver um office-boy resmungão para estragar o ambiente de toda uma companhia”. De que adianta praticarmos uma boa ação se fazemos questão de enfatizar o favor que fizemos a alguém? Neste exemplo, o office-boy ressaltava o favor que estivera fazendo aos outros, removendo a neve, e falava mal daquele engenheiro que não soube reconhecê-lo. Já que iria reclamar tanto por causa disso, melhor teria sido se não tivesse feito aquele trabalho. As reclamações do office-boy acumularam-se mais do que a neve a cair incesantemente, a ponto de “fazer desaparecer” a credibilidade da firma.
Um office-boy como esse não traz benefícios para nenhuma firma, pois, apesar de parecer honesto e trabalhador, da sua boca saem palavras de descontentamento. 
Procure não ser alvo da antipatia nem mesmo de uma única pessoa. Frequentemente a diretoria de uma firma reconhece a capacidade de um funcionário e gostaria de promovê-lo para um cargo de chefia, mas não se decide a isso, por saber que um dos colegas desse funcionário nutre uma grande antipatia por ele. As pessoas que têm espírito agressivo não podem ser bons líderes, pois entram em choque com os outros muito facilmente.
Existem certos tipos de funcionários, cuja presença é o bastante para estragar o ambiente de uma firma.
São eles: 1) os que mantêm uma expressão triste e sombria, 2) o que vivem resmungando, 3) os que criticam os chefes e os colegas, na ausência deles, 4) os que espalham os segredos dos outros, sussurrando: “vou te contar um segredo…”.
Na maioria das vezes, essas pessoas não se dão conta dos seus próprios atos, nem percebem o mal que estão causando.
Peço ao leitor que se detenha um momento, agora, e faça uma auto-análise. Caso constate que se enquadra num dos tipos citados, procure corrigir-se imediatamente.
 

…”

Referência bibliográfica
A Cartilha da Vida, volume 2, pág 68, Masaharu Taniguchi

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